terça-feira, 29 de janeiro de 2008


Estava a dar uma vista de olhos em papéis antigos e encontrei este texto. Foi escrito a 5 de Maio do ano 2000. (tinha 17 anos)


Um poeta precisa de espaço. Correr mundo, expandir o seu dom natural de absorver a terra que o rodeia. De uma maneira energética. Transmintindo-lhe forças e inspirações profundas para o acto da sua criação poética.

Por vezes o espaço pode ter dois sentidos latos. O do conhecimento da vida, do dia a dia, da sensação e experiência de existirmos enquanto personagens de um mundo de ligações e sonhos, de desejos, de vivermos bem no espaço em que estamos. Por outro lado, ao pegar numa folha e num lápis, o poeta vai onde quiser.

Dadas as circunstâncias, neste e nesse momento somos tudo e vamos até ao infinito dos limites. Porém existe o perigo vivermos num mundo de utopias.

O facto de atravessarmos um portal mágico... que não obedece a tempo, espaço, dimensão, é a prova de um modo abstracto, de que somos livres de alma enquanto fazemos parte do tal portal de utopias que são reais por escassos momentos de elevação a um plano que nos faz sentir em paz e em harmonia com a plenitude das estrelas.

É um embalo aconchegante de um quadro livre, de beleza transparente, que nos protege e nos dá luz.

A luz da noite é importante para o meu aconchego interior. Uma cumplicidade. É um saber que existe aquela ligação terna de pertença, de um modo saudável, e de tudo o mais profundo e verdadeiro que essa luz nos transmite.

Vaguear, na poesia e em tudo é uma forma de expressão, de libertar as pressões e tensões de um mundo sábio mas inexplicavelmente mesquinho e rude.

É termos nas mãos a chama da vida e de tudo o que nos faça sentir bem, e por outro lado a chuva que a apaga fazendo com que se torne fumo e num plano posterior, cinza.


Há que gritar e compreender que nas dimensões planetárias a alma está "presa" ao corpo mas a mente vagueia. -Onde? Não sei, por aí.

Será um dom? Ou simplesmente um modo mais abstracto de encarar o mundo?

Existem momentos em que parece estarmos perdidos, porque vivemos nessa dimensão que, pensamos nós, às vezes, quando não reflectimos, que talvez sejamos os únicos a pensar e a sentir dessa maneira. É nessa altura que nos sentimos sós.

Mas o corpo chama-nos para o que penso que a "maioria"chama "o real" e que acordamos por momentos e voltamos (sem nunca o termos deixado de ser) pessoas que vivem limitadas por uma sociedade de leis que nos privam de viver.

Na poesia, na escrita, na origem real e profunda do que é verdadeiro, somos raros em tudo, porque o espírito vive. Vive em mim, em ti, nele, nela e no mundo de forças, para quem acreditar e as sentir.

Essas pessoas, esses seres, essas almas com esses espíritos vivem para sempre.


Este texto, para mim, e apesar de 8 anos terem passado, continua a fazer sentido.
Ainda tenho em mim a noite em que escrevi este texto. Senti o toque de uma mão "superior".
Nunca esquecerei. Li e reli porque interrogava constantemente se teria sido eu a autora. Talvez sim, talvez não. Nunca terei a resposta.

Mundo Azul*